REFLEXÕES SOBRE A MÚSICA “FALA”
Secos e Molhados
(PROCURE OUVIR A MÚSICA NO YOUTUBE)
FALA
Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então ei escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto
Fala - Fala
Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto
Fala - Fala
- Secos e Molhados -
FALAR: Nesta música temos um convite, quase uma súplica, para falar. Mas por que falar? Através da comunicação verbal, da fala, conseguimos transmitir com mais clareza nossos desejos, ideias, sentimentos, percepção do mundo, etc. Falar pode ser muito libertador. Aceite o convite desta música e fale sem medo.
NÃO FALAR: Que tal refletirmos sobre a dificuldade de falarmos sobre nós mesmos, nossos problemas e angústias? Muitas vezes preferimos nos calar e escutar somente... sem expressarmos o que sentimos e vivemos. Calar por não conseguir falar, calar sem ter escolha, entristece, adoece e sufoca. Na terapia, experimentamos esta fala mais livre e sem medo. Terapia faz bem à saúde!
ESCUTAR: Esta música dos secos e molhados me faz pensar sobre meu trabalho de psicóloga. É um trabalho que se baseia na escuta. Uma escuta diferenciada, atenta e engajada do que o outro diz e vive. Uma escuta neutra, empática e ética. Escutar é uma arte e todos podemos desenvolver esta aptidão. Então, você escuta?
A CHEGADA DO PRIMEIRO FILHO...
O casal se forma a partir do encontro amoroso de duas pessoas. A chegada do primeiro filho é um momento de grande felicidade e um momento que marca uma transição. Antes da gravidez, a relação conjugal se baseia exclusivamente num investimento mútuo. Já durante a gravidez, os casais começam a mudar sua forma de se relacionar e com a chegada do primeiro filho, com este terceiro na relação, ocorre a passagem da díade para a tríade. O que era um investimento de um para o outro, passa a ser um investimento dos dois voltado para o bebê e um ou outro parceiro pode se sentir excluído ou deixado de lado.
Com o nascimento do primeiro filho, a mulher se torna mãe e o homem se torna pai, funções até então inexistentes na vida do casal. O nascimento de uma criança é um momento de transição no ciclo de vida de uma família. Esta etapa é marcada por grandes mudanças na vida e no relacionamento do casal. O casal passa da “conjugalidade” e entra na “parentalidade”. Infelizmente, alguns casais só conseguem funcionar bem sendo “dois” e apresentam dificuldades relacionais logo após o nascimento do primeiro filho. A parentalidade (tornar-se pai e tornar-se mãe) é uma construção delicada e um grande desafio do ponto de vista individual e do casal. Se esta transição for bem organizada, ela não causa insatisfação nem desajustes.
Uma parentalidade saudável só é possível com a aceitação do bebê como o terceiro da relação, o que é um grande desafio par o casal. É importante que o casal continue atento à “relação à dois” (pois ela é a base da união do casal) e que, juntos, abram espaço para este tão desejado filho. Caso se sintam perdidos ou distantes como casal, podem procurar ajuda de terapia de casal e família, e reencontrar um novo equilíbrio.
REFLEXÕES SOBRE NOSSA LÍNGUA MATERNA
Língua materna é a língua que a mãe fala?
Língua materna é a língua da infância?
Língua materna é a língua da intimidade?
Língua materna é a língua das primeiras palavras?
Língua materna é a língua na qual falaram de nós?
A língua materna se adquire em casa, com a família, que é o primeiro grupo, o primeiro sistema social do qual participamos. É na família que formamos nossos sistemas de valores, crenças, representações e normas. A língua é transmitida nas famílias de geração em geração, e é específica a cada grupo social. Ela tem por função criar uma identidade cultural, um sentimento de pertencimento.
A língua é um importante instrumento de transmissão cultural. É na língua materna que verbalizamos o mundo pela primeira vez, e é por ela que preservamos elementos culturais (tradição, usos e costumes) e que mantemos nossa identidade cultural.
Todos temos uma língua materna ( também chamada de língua nativa, língua de herança ou primeira lingua). Ela é nosso primeiro contato verbal com o mundo e nos é transmitida de forma natural por nossa família. Esta língua nos faz pertencer a um grupo étnico-linguístico e nos oferece uma identidade cultural.
Crianças, filhos de pais de diferentes nacionalidades e diferentes línguas, podem ter duas (ou mais) línguas maternas. É o caso também de filhos de emigrantes, que falam precocemente tanto a língua dos pais, em casa, quanto a língua do país de colhimento. Duas línguas, duas identidades, estar entre-dois mundos. Muitas vezes, esta situação pode se reunir, ter pais de nacionalidades diferentes e ainda viver num país que fale uma terceira língua. A criança já constrói seu aparelho psíquico com três chaves, três modos de ver e sentir o mundo e com a escolha de como se relacionar com cada uma delas.
Freud cita as seguintes frases em suas correspondências:
“A perda da língua na qual (o emigrante) vivia e pensava é insubstituível”
(carta de Freud para Raymond de Saussure, em 1930)
“Na América, você precisará renunciar à sua língua, que não é uma roupa, mas a própria pele”
(carta de Freud para Arnold Zweig, em 1936).
Uma situação de ruptura com a língua materna pode provocar um grande luto, mas pode também ser um ato de liberdade. Adotar de uma nova língua é como adotar uma nova identidade. Falar várias línguas, nos faz trabalhar várias identidades e acaba trazendo uma flexibilização de nossa identidade de origem. Cada língua traz com ela, uma maneira de pensar e de tratar a informação.
“uma pessoa que só conhece uma língua, não a conhece à fundo”.
“Aquele que não conhece uma língua estrangeira, não conhece a sua própria”
Goethe
REFLEXÕES SOBRE O TEMA DA COMUNICAÇÃO
Para Paul Watzlawick,
“A CRENÇA DE QUE A NOSSA VISÃO DA REALIDADE É A ÚNICA REALIDADE, É A MAIS PERIGOSA DE TODAS AS ILUSÕES”.
Segundo este autor, a realidade é uma construção, e não um dado objetivo e indiscutível. A realidade que você vive, é diferente da realidade que eu vivo, que é diferente da realidade vivida por nosso vizinho. Cada um de nós, vê e vive o mundo de uma forma única, de acordo com suas percepções, sentimentos e entendimentos subjetivos. Se conseguirmos entender que há várias “realidades” possíveis, passamos a ser menos rígidos em nossas avaliações e críticas. Podemos também nos tornar mais empáticos com a realidade vivida pelo outro. A “realidade” é uma construção social a partir das diferentes realidades subjetivas vividas pelas diferentes pessoas.
Paul Watzlawick levanta também outra interessante questão em seus "axiomas da teoria da comunicação", falando sobre o tem da ideia fixa.
"O que é mais importante em uma ideia fixa é que ela é capaz de criar sua própria realidade".
Quando temos uma ideia fixa em nossa mente, ela é tão potente que acaba nos fazendo interpretar tudo de forma a confirmar aquilo em que acreditamos ou queremos muito. Por exemplo: se tenho uma baixa auto-estima, acabarei me comportando de forma a não valorizar meus pontos fortes... e assim ficará "provado" que sou uma pessoa de pouco valor. Como eu acredito muito nisto, eu acabo transformando isto em uma realidade.
Sobre o tema da comunicação, gosto muito de uma frase de Jacques Lacan que diz:
"Você pode saber o que disse, nunca o que o outro escutou".
Cada pessoa interpreta a mesma informação de maneira diferente, de acordo com a "bagagem" e as experiências que viveu A comunicação entre duas (ou mais) pessoas é algo bem complexo e merece toda nossa atenção. Sempre que tiver algo importante a dizer para alguém, certifique-se que a outra pessoa compreendeu, de fato, o que você quis dizer.
" Todo comportamento é comunicação e Toda comunicação afeta o comportamento"
Paul Watslawick
REFLEXÕES SOBRE SONHAR E PLANEJAR
Para Freud e a psicanálise, o sonho representa a realização de um desejo.
Quando sonhamos dormindo, através das imagens virtuais que criamos, temos uma espécie de vivência de uma realidade-fantasia que só existe no sonho. Nós não escolhemos o que sonhamos, quem age é o inconsciente. A psicanálise vê o sonho como a “via real” para o inconsciente. Quando sonhamos, não controlamos as imagens, apenas as vivenciamos. É sempre muito interessante prestarmos atenção aos nossos sonhos e tentarmos decifrar o que eles estão tentando nos dizer. Interpretar um sonho, é também criar novas interpretações para nossas vidas, abrir novos caminhos e entrarmos em contato com o que realmente desejamos.
Já quando sonhamos acordados, fantasiamos, imaginamos, devaneamos, inventamos. O sonho fala de um querer nosso, de uma aspiração, de uma vontade consciente de alcançarmos alguma coisa. Quando sonhamos acordados, criamos em nossa mente, uma nova realidade, uma nova possibilidade. Mas, muitas vezes, nossos sonhos permanecem inalcançáveis, utópicos. Como fazer para torná-los possíveis?
Geralmente, um sonho é algo novo e desconhecido, muitas vezes mal definido, como um problema sem solução. Quando planejamos, vamos solucionando problemas e fazendo escolhas para avançarmos de uma etapa para outra. De certa forma, quando temos um sonho, temos um problema para resolver: como, a partir de nossos sonhos, criarmos planos?
Mas, como criar um plano, a partir de um sonho? Um plano é algo mais palpável que um sonho. Ele fala de uma série ordenada de ações e eventos projetados em um futuro. Os planos guiam nossa atividade pois eles se desdobram em ações estruturadas que nos levam à execução da ação sonhada.
Precisamos estudar bem a situação atual na qual nos encontramos para depois podermos definir um objetivo (um sonho mais concreto) com uma série de objetivos intermediários. Aí então poderemos escolher as ações necessárias para passarmos do estado atual ao objetivo sonhado.
É natural que não consigamos alcançar este objetivo sonhado da noite para o dia. Há uma construção, um processo que precisa acontecer. Muitas vezes, não chegamos a realizar nossos sonhos por fazermos planejamentos parciais e incompletos ou por desistirmos no meio do caminho, por medo de não conseguir, por medo do desconhecido ou por termos muita pressa. Vamos sonhar sim, como base de nosso plano de vida!
PRO CRAS TI NAR
Todos nós, de uma forma ou de outra, apresentamos comportamentos procrastinatórios em nossas vidas. Mas por quê? Quando temos tendência a exacerbar este comportamento ?
Procrastinar é um comportamento irracional de adiar, de forma não estratégica, o que temos que resolver ou decidir, de deixar para depois, de prorrogar prazos e de criar atrasos desnecessários para a realização de uma tarefa ou de uma decisão que precisamos fazer. Se aquilo que adiamos não é de fato fundamental e que não há uma necessidade real de fazê-lo, bão podemos falar de procrastinação.
Na vida adulta, a procrastinação está presente nas mais diversas situações : educação (se preparar para provas e trabalhos escritos), saúde (marcar consultas e exames), trabalho (realização de relatórios e reuniões), etc. É importante ressaltar que pessoas que procrastinam não são simplesmente preguiçosas ou desmotivadas. A procrastinação causa desconforto psicológico e um sentimento negativo de ansiedade, culpa e insatisfação.
O QUE NOS LEVA A PROCRASTINAR?
A procrastinação é resultado do encontro de fatores pessoais e situacionais. A seguir citarei alguns, mas certamente não é uma lista exaustiva, mas já serve como base para refletirmos sobre o que pode nos levar a procrastinar.
COMO FAZER PARA MELHORAR A PROCRASTINAÇÃO?
Toda mudança de comportamento é um processo e nunca é imediato nem fácil, mas sempre possível. O primeiro passo é termos consciência daquilo que queremos mudar identificarmos “o que” e “quando” procrastinamos. Então tentaremos entender o que está por trás de cada ato procrastinatório ("o porquê"). Há algum ponto em comum entre as tarefas que adiamos?
PROCRASTINAR TAMBÉM PODERIA SER POSITIVO?
Atenção: nem sempre adiar o início de uma tarefa deve ser visto como uma procrastinação. Se este adiamento for positivo para a realização da tarefa ou decisão (ter melhores condições técnicas ou materiais para realizá-la) então não é procrastinar.
A procrastinação pode ter um lado positivo: não agir pode ser uma forma produtiva de refletir melhor sobre o que fazer.
Há também pessoas que trabalham melhor sob pressão, depois de já terem "perdido" muito tempo, acabam produzindo melhor ou tomando melhores decisões.
Procrastinar pode ser uma estratégia inconsciente que serve para proteger nossa auto-estima, pois serve de desculpa e evita um potencial fracasso. A pessoa sempre pode dizer que não conseguiu fazer o que tinha que fazer pois não se esforçou, e assim, não fica com o sentimento de ser incompetente.
_______________________________________________________________________________________________________
Estas reflexões sobre a procrastinação foram fruto de minha experiência pessoal como psicóloga e também da leitura de alguns textos, que cito abaixo:
- "Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa", Fernanda de Souza Brito; Daniela Di Giorgio Schneider Bakos.
- “Autorregulação da aprendizagem e a procrastinação acadêmica em estudantes universitários”, Rita Karina Nobre Sampaio Soely Aparecida Jorge Polydoro Pedro Sales Luís de Fonseca Rosário
- "Procrastinação", Sara Guelha
- "Como vencer a procrastinação" no linkedIn, Brenda Bailey-Hughes
- “Depois eu faço: Entendendo a procrastinação”, Paula Grandi
- "Será o comportamento de procrastinar um problema de saúde?", Eliana Isabel de Moraes Hamasaki, Rachel Rodrigues Kerbauy
- "Proscrastinação, auto-regulação e gênero", Marta Costa